Mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube | Bastidores do teatro com Felipe Fonseca
Mais Quero Asno Que Me Carregue, Que Cavalo Que Me Derrube conta a história de Inês, uma adolescente que vive com sua mãe para os afazeres domésticos. Sua única diversão é assistir ao seu ídolo, o cantor Jonh Braz, na TV. Pressionada pelas vizinhas, mãe e madrinha para que se case, é inscrita em um programa de TV que agencia casamentos. Casada, não se conforma com a dura rotina e decide libertar-se de maneira inusitada. A comédia de Carlos Alberto Soffredini se passa na década de 60 e discute de forma divertida as relações familiares, os costumes e a pressão social pela qual as mulheres eram e ainda são submetidas.
A peça é baseada na Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente. Soffredini buscou por um teatro nacional não só do ponto de vista da temática como das formas de interpretação brasileira, pesquisadas nos remanescentes circos teatros. Ao manter contato com o ator popular brasileiro, Soffredini pôde também observar uma maneira pré-Stanislaviskiana de interpretar, tão eloquente quanto aquelas apontadas por Brecht.
Todas as observações foram deixadas por ele antes de morrer precocemente, numa curta dissertação nada acadêmica (não publicada) intitulada: De um trabalhador sobre o seu trabalho. Ali estão detalhados conceitos e técnicas, quase uma poética popular sobre a interpretação cômica que o diretor Ednaldo Freire, convidado para essa montagem quando integrou o Grupo Mambembe (dirigido por Soffredini), também pôde vivenciar.
A encenação
A ambientação proposta, embora farsesca, remete à estética de uma casa brasileira. A interpretação e caracterização dos tipos são trabalhados segundos os princípios que nortearam aquela investigação que remonta a um modo pré-Stanislaviskiano, observados no teatro de revista e circos teatros, tradição dos saltimbancos e comédia italiana, aclimatado pelos cômicos brasileiros do circo teatro e da chanchada nacional.
Por Ednaldo Freire
“1975, parece que foi ontem que um grupo de jovens atores liderados pelo dramaturgo Carlos Alberto Soffredini iniciava o Projeto Mambembe com a audaciosa montagem de As Aventuras do cavaleiro D. Quixote e seu criado Sancho Pança. Eu era um daqueles jovens quixotescos, muito interessado em toda aquela pesquisa sobre as formas de interpretação. O encontro com Soffredini só fez fortalecer minhas convicções sobre uma visão de teatro de caráter eminentemente popular. Visão essa que continua sendo aprimorada e revisada com os mais variados parceiros que durante esses anos dividi trabalhos. Hoje posso afirmar que o Grupo Mambembe e sua estética foi referência determinante para a estética de vários coletivos atuais como: Os Fofos encenam, Grupo Grafiti, Parlapatões, assim como para vários diretores como Gabriel Villela, Fernando Neves e claro, responsável pela minha carreira como diretor teatral, perpetuando-se na Fraternal Companhia de Artes e Malas Artes o qual sou fundador. Agora o destino me oferece mais uma oportunidade de compartilhar essa experiência com uma nova geração de atores e atrizes agrupados com a denominação QUINTAL DO AVENTINO COLETIVO DE TEATRO. Assim, a concepção de encenação segue os conceitos do conhecimento acumulado por todos esses anos de investigação da cultura popular brasileira e suas formas de expressão populares”.